sábado, maio 10, 2008

Quanto custa ao país a não retenção de um aluno?

Recentemente, a ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, manifestou o seu desagrado em relação ao elevado número de retenções que se verifica no país. Alguns dias mais tarde, talvez com o objectivo de mobilizar o povo português para esta terrível realidade, referiu que cada aluno custa ao Estado 3 mil euros por ano e que, em caso de uma retenção, seriam 6 mil euros e duas retenções 9 mil euros, etc.
Ora, o povo, todos nós, em tempo de grave crise económica, somos levados a pensar que a senhora ministra até tem razão. Vamos lá acabar com as retenções e poupar alguns milhões ao Estado.
Aqui surge a questão. Estaremos mesmo a poupar dinheiro ao Estado acabando com as retenções?
Este assunto parece-me ser um cobertor demasiado curto, que tapa a cabeça, mas logo descobre os pés, levando à inevitável constipação, nem que seja uns anos mais tarde.
É evidente que nem todos os alunos beneficiam com uma retenção. Alguns ficam ainda mais desmotivados e outros até abandonam a escola. No entanto, em muitos casos, a retenção tem efeitos benéficos. Por vezes o aluno fica mais responsável, ganha maturidade e consegue realmente aprender o que não tinha conseguido no ano anterior. Não é correcto generalizar e dizer que os alunos retidos não aprendem mais por repetir o ano.
Quando refiro os custos para o país de uma não retenção, penso no futuro. Se enveredarmos pela não retenção durante a escolaridade obrigatória, teremos ainda mais alunos com o diploma, mas sem os conhecimentos e quem perde é o país, logo, todos nós.
Permitirmos aos alunos a transição de ano de escolaridade, de forma automática, quer tenham adquirido ou não as competências, quer se tenham empenhado ou não, é estarmos a dizer às nossas crianças e jovens que a vida é fácil, não implica esforço e que vão sempre atingir os seus objectivos independentemente do empenho que tiverem.
Sabemos que a vida não é assim e que quando estes jovens ingressarem no mercado de trabalho a situação vai ser precisamente o contrário, ou seja, se têm competência e são empenhados, progridem na carreira, não têm competência e não se esforçam, podem ser dispensados.
Que mau exemplo de educação e preparação para o futuro estamos a dar se formos por esse caminho.
Não devemos temer os traumas de uma retenção. A vida pode ser muito mais traumática e é bom estar preparado para a viver, desde cedo.
Temo que os custos sejam bem maiores se se mantiver ou alterar o estado das coisas no sentido da progressão automática durante a escolaridade obrigatória. Temo por uma geração mal preparada, não só intelectualmente, mas emocionalmente, que não vai saber lidar com as frustrações e que talvez um dia, a médio prazo, nos venha pedir contas por não lhe termos mostrado que o sucesso, seja em que área de trabalho for, se alcança com esforço.
Espero que os milhões que se possam eventualmente poupar com a não retenção de muitos alunos não venham a ser gastos, com muitos juros, quando verificarmos, finalmente, que devemos trabalhar para ter um povo culto e bem preparado.

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