quinta-feira, março 23, 2006

Crash



Precisamente há uma semana atrás eu fui ver o filme "Crash", mas ainda não tinha tido oportunidade de falar sobre ele.
Em primeiro lugar fiquei contente que tenha ganho o óscar para melhor filme e melhor argumento.
É assustador! Parece que andamos todos com os nervos à flor da pele.
A sociedade, não só a americana, está cada vez mais misturada com povos, raças, religiões. Vivemos mesmo numa aldeia global, mas não sabemos viver assim.
Temos comportamento tribal.
Gostei muito do argumento. Fez-me pensar. Realmente a nossa tolerância só exite, na maioria dos casos, para aquilo que não deveria existir.
Continuamos a sentir que a nossa cor de pele, credo é o melhor que há e não toleramos os outros. Estaremos a evoluir?

terça-feira, março 21, 2006

A poesia e a floresta


Neste Dia Mundial da Floresta e da Árvore e também Dia Mundial da Poesia, eu quero assinalar os dois com um poema de um autor de língua portuguesa de quem eu gosto muito, Vinicius de Moraes.

A floresta
Sobre o dorso possante do cavalo
Banhado pela luz do sol nascente
Eu penetrei o atalho, na floresta.
Tudo era força ali, tudo era força
Força ascencional da natureza.
A luz que em torvelinhos despenhava
Sobre a coma verdíssima da mata
Pelos claros das árvores entrava
E desenhava a terra de arabescos.
Na vertigem suprema do galope
Pelos ouvidos, doces, perpassavam
Cantos selvagens de aves indolentes.
A branda aragem que do azul descia
E nas folhas das árvores brincava
Trazia à boca um gosto saboroso
De folha verde e nova e seiva bruta.
Vertiginosamente eu caminhava
Bêbado da frescura da montanha
Bebendo o ar estranguladamente.
Às vezes, a mão firme apaziguava
O impulso ardente do animal fogoso
Para ouvir de mais perto o canto suave
De alguma ave de plumagem rica
E após, soltando as rédeas ao cavalo
Ia de novo loucamente à brisa.

De repente parei. Longe, bem longe
Um ruído indeciso, informe ainda
Vinha às vezes, trazido pelo vento.
Apenas branda aragem perpassava
E pelo azul do céu, nenhuma nuvem.
Que seria? De novo caminhando
Mais distinto escutava o estranho ruído
Como que o ronco baixo e surdo e cavo
De um gigante de lenda adormecido.

A cachoeira, Senhor! A cachoeira!
Era ela. Meu Deus, que majestade!
Desmontei. Sobre a borda da montanha
Vendo a água lançando-se em peitadas
Em contorsões, em doidos torvelinhos
Sobre o rio dormente e marulhoso
Eu tive a estranha sensação da morte.
Em cima o rio vinha espumejante
Apertando entre as pedras pardacentas
Rápido e se sacudindo em branca espuma.
De repente era o vácuo embaixo, o nada
A queda célere e desamparada
A vertigem do abismo, o horror supremo
A água caindo, apavorada, cega
Como querendo se agarrar nas pedras
Mas caindo, caindo, na voragem
E toda se estilhaçando, espumecente.

Lá fiquei longo tempo sobre a rocha
Ouvindo o grande grito que subia
Cheio, eu também, de gritos interiores.
Lá fiquei, só Deus sabe quanto tempo
Sufocando no peito o sofrimento
Caudal de dor atroz e inapagável
Bem mais forte e selvagem do que a outra.
Feita ela toda de esperança
De não poder sentir a natureza
Com o espírito em Deus que a fez tão bela.

Quando voltei, já vinha o sol mais alto
E alta vinha a tristeza no meu peito.
Eu caminhei. De novo veio o vento
Os pássaros cantaram novamente
De novo o aroma rude da floresta
De novo o vento. Mas eu nada via.
Eu era um ser qualquer que ali andava
Que vinha para o ponto de onde viera
Sem sentido, sem luz, sem esperança
Sobre o dorso cansado de um cavalo.

Rio de Janeiro, 1933

sexta-feira, março 17, 2006

E se um desconhecido de repente lhe oferecer flores...


Não lhe caia nos braços, mas sinta-se bem consigo mesma, porque afinal não é todos os dias que se recebem rosas vermelhas acompanhadas de cartão com belas palavras.
São curiosas as personalidades feminina e masculina. Eles que gostam de oferecer flores e tentar com esse gesto conquistar o "sexo fraco". Elas, que ainda que não estejam interessadas, gostam de receber flores, porque se sentem alvo das atenções e de certa forma eleitas.
Acordei hoje para este lado e veio-me à memória o anúncio do desodorizante, mas também o poema: "...queixo-me às rosas, mas que bobagem, as rosas não falam, simplesmente as rosas exalam o perfume que roubam de ti...".

terça-feira, março 14, 2006

Falta de chá

Consegui!
Quando hoje acedi ao meu blog espantei-me e isso foi bom.
Alguém continuava a visitá-lo e a deixar comentários, mas... que comentários!
Pensava que não tinha inimigos, mas a avaliar por um comentário ali deixado eu estou na lista negra de alguém.
Como essa pessoa não teve a coragem de assinar o comentário e se limitou a criticar-me duramente eu não lhe poderei responder como queria, ou seja, pessoalmente. Terei de usar o blog.
Em primeiro lugar eu aprecio as pessoas que assumem o que dizem, logo, desvalorizo quem o faz no anonimato. Mostra cobardia e falta de ética.
Em segundo lugar, devo dizer que a nossa língua é um órgão bem poderoso, pois com ela podemos bendizer ou amaldiçoar. No caso a segunda parece ser a realidade.
É curioso que já há uns anos atrás recebi umas mensagens anónimas no telemóvel com algum conteúdo semelhante. Dá para pensar que se trata da mesma pessoa.
Convido a anónima a identificar-se.