terça-feira, fevereiro 21, 2006

Gostaria de ser um livro


Descobri hoje nos papéis que guardo uma composição feita no ano lectivo 79/80 e que me alegrou ler, por isso decidi partilhá-la.


Quem gostarias de ser?
Eu gostaria de ser um livro.
Gostaria! Oh se gostaria!
Ser um livro importante que falasse do mundo.
A princípio, quando o meu escritor me começou a escrever, senti-me só sem um único amigo, como uma criança só, no mundo dos adultos.
Mas depois, conforme o meu conteúdo ia aumentando, mais eu me sentia forte. Ganhei alguns amigos que iam para o meu lado, para o meu escritor tirar bases para me escrever, mas pobre de mim, todos me troçavam, por ainda não ter vestes, pois eu eu era simplesmente folhas e mais folhas de papel.
Agora já sou crescido e já estou à venda nas papelarias.
Quando os doutores souberam que eu existia ficaram contentíssimos, porque eu lhes poderia responder a muitas questões para as quais eles não tinham respostas.
Já sou velho, triste, cansado, mas uma coisa sei: desde que nasci não conheci mais nenhum livro que tivesse tão boas respostas e ensinasse tão bem como eu.
Estou numa biblioteca e sinto-me feliz, porque às vezes os jovens que são curiosos pegam em mim e dizem: - Que belo livro!
Podem-me chamar tolo, mas eu não me importo. É a única esperança que tenho na vida! É triste, mas é sempre assim o nosso fim.
Daqui envio uma mensagem aos meus colegas que estão tristes e cansados como eu. Não desanimem! Alegrem-se! Mais cedo ou mais tarde gostarão outra vez de nós! Talvez a geração nova!
Passados que são 26 anos sobre este desejo, eu ainda gostaria de ser um livro. Por tudo que com eles aprendi, pela companhia que me fizeram e pelos sonhos que despertaram.

segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Mediocridade

Nunca gostei de mediocridade e uma das coisas que mais me irrita no actual sistema de ensino é o culto da mediocridade.
De um modo geral, os nossos alunos têm uma falta de cultura atroz. Salvam-se honrosas excepções, aqueles que nos dão alegrias, que gostam de aprender e pesquisam, lêem, fazem perguntas, querendo sempre saber mais. Mas são tão poucos!
Sempre foi assim, podem dizer, mas o que me deixa à beira de um ataque de nervos é ver que a escola está feita para os desinteressados, para os que andam ali só a cumprir a escolaridade obrigatória. Os pobres dos bons alunos têm de se render à mediocridade dos outros. Ao invés de se nivelar por cima e exigir mais, desce-se cada vez mais e exige-se cada vez menos.
Gostava que de uma vez por todas se exigisse mais dos nossos alunos, que não nos contentássemos com tão poucos conhecimentos e não aceitássemos tão fracos resultados como suficientes para transitar de ano.
"Dos fracos não reza a história" e nós estamos a contribuir para um país de fracos que não fará história.
Resta-nos lutar para transmitir o máximo que conseguimos e tentar motivar os nossos alunos para uma cultura de conhecimento.
Abaixo a mediocridade!

terça-feira, fevereiro 14, 2006

Alunas felizes

Um grupo de alunas felizes do 10º A, em 1983 na Escola Secundária D. Inês de Castro.
Bons tempos!

segunda-feira, fevereiro 13, 2006

Procuram-se alunos felizes

Voltei!
Hoje eu tive saudades dos tempos em que os alunos podiam sair da sala quando acabavam o teste, da alegria que sentiam quando tinham "furo", de poderem sair mais cedo nas aulas de apresentação e de final de período.
Eu fui uma aluna feliz. Lembro-me de gostar de ser aluna e garanto-vos que não gostava só dos intervalos. Gostava do conjunto todo.
Era bom poder ficar na brincadeira, conversar, correr, contar umas anedotas, ou então, para quem não tinha jeito, ouvi-las.
A escola era composta de aulas, convívio e sobretudo alegria quando faltava um professor.
Curiosamente, lembro-me que aprendíamos e para quem não queria aprender ou não conseguia, não havia Planos de Recuperação que os obrigavam a ficar mais horas na escola, que para esses já era uma seca.
Gostava que eles continuasem a saber o que era "furo" e "chumbar".
Gostava que os meus alunos pudessem correr, jogar, brincar, quando têm furos. Gostava que eles não fossem obrigados a ver filmes e a estar fechados numa sala quando sabemos que as crianças cada vez têm menos actividade física. Gostava que na hora de almoço a sala de computadores estivesse fechada para eles puderem ficar na rua e não almoçarem a correr para ir jogar.
Gostava que eles fossem felizes, que brigassem e partissem a cabeça. As crianças sempre foram assim e cresceram.
Deixem as crianças serem felizes!

quarta-feira, fevereiro 08, 2006

Traços de personalidade?


Não sei para onde vá.
Li recentemente o poema de José Régio e embora não me identifique com algumas ideias, eu subscrevo a principal: "Só sei que não vou por aí".
Ainda não sei como vou continuar este blog, não sei o estilo que lhe quero dar, mas sei que não vou em alguns sentidos.
Talvez devido a essa incerteza, fiquei "em silêncio" alguns dias.
Espero que isso não se torne um hábito, porque também sei que não quero ir por aí.
A foto inserida prova que a incerteza me acompanha há longos anos.
Será que me esqueci do que ia comprar ao mercado?
É incrível como Alcobaça está tão igual naquele ângulo.

(Junto ao Cine- Teatro, no escaldante Verão de 68)

sábado, fevereiro 04, 2006

Depressão


A depressão será, nos próximos 10 anos, a doença que irá causar mais incapacidade.
A TSF apresentou ontem uma boa reportagem sobre esta doença dos tempos modernos.
Sempre me interessei muito por este assunto, por isso foi com bastante atenção que fui ouvindo os testemunhos de doentes, médicos e farmacêuticos.
A depressão atinge todas as classes sociais e, contrariamente ao que alguns possam pensar neste dia, o dinheiro não traz felicidade.
Algumas pessoas, com vidas que poderão ser consideradas invejáveis, ficam deprimidas. O seu mundo desaba, como se fosse um castelo de cartas e o que antes era dado como adquirido, passa a ser incerto, inseguro.
A razão porque decidi falar disto aqui é porque conheço alguns casos, cada vez mais, e ainda me indigno porque muitas pessoas olham para os doentes depressivos e para as suas atitudes como opções por estes tomadas, de livre vontade.
É muito difícil viver com um doente depressivo, mas também é um desafio constante e aprende-se muito, às vezes à custa de sofrimento.
Existe uma associação de doentes depressivos e bipolares que procura dar ajuda a doentes e familiares. Fica aqui o endereço do site. http://www.admd.pt
Procurem estar atentos a quem vive à vossa volta e neste dia, sejam felizes e façam alguém feliz.

quinta-feira, fevereiro 02, 2006

"Hotel Ruanda"


É bom ter outra vez cinema em Alcobaça.
Também é muito bom poder ver filmes que por uma ou outra razão nos escaparam no tempo próprio.
"Hotel Ruanda" foi o filme a que assisti ontem. Há muito tempo que eu o queria ver e ao contrário de outras vezes em que criei grandes expectativas e depois me decepcionei, considero que foram duas horas muito bem passadas.
Foi um daqueles filmes que fez despertar em mim aquela vontade adolescente de mudar o mundo, das grandes causas.
Não me imagino a participar numa manifestação anti globalização, mas a ideia de participar numa missão humanitária é um sonho recentemente tornado voz.
As ideias da adolescência já se esfumaram há muito, mas agora eu sei que todos os pequenos contributos podem ajudar a minorar um pouco a dor de quem nada tem.
Que eu jamais deixe de fazer algo em prol dos outros usando como desculpa o facto de não poder mudar o mundo com o meu pequeno gesto. Se eu contribuir para um pouco de felicidade de alguém à minha volta já estarei a contribuir com a minha parte.
É bom vermos filmes que não nos deixam indiferentes.